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Coisas da Vida Empty
MensagemAssunto: Coisas da Vida   Coisas da Vida EmptyDom Jun 14, 2009 12:47 am

Quando a "fábrica" do contrabando acabou

Veteranos da raia seca evocam os tempos em que as fronteiras protegiam o sustento
00h31m

ALFREDO MAIA

Quando
a Europa escancarou as fronteiras que a cumplicidade entre
contrabandistas e guardas gerada no ventre das aldeias tinha franqueado
há décadas, o sustento minguou na raia. E a juventude partiu."Quando
se abriram as fronteiras - e mercadorias e pessoas puderam circular
livremente -, um antigo presidente da Câmara do Sabugal disse que tinha
fechado a maior empresa do concelho", evoca José Manuel Campos,
presidente da Junta de Freguesia de Fóios. Muitos partiram; outros
agarraram-se ao que puderam - agricultura, construção civil - e às
economias amealhadas nos tempos do contrabando e da emigração
clandestina.No parque de Eljas (ou As Ellas, na fala local),
Estremadura espanhola, Jose Rodriguez, 65 anos, mira com respeito o
espinhaço de rocha e matos das serras das Mesas e da Malcata que
separara os povos. "Ali é Fóios, à esquerda é Vale de Espinho, além
Penedono. Era por ali que os portugueses vinham. Traziam de tudo -
café, batatas, legumes, sardinhas", recorda. Virado à muralha
serrana inexpugnável ("Subiam e desciam por veredas que só eles
conheciam..."), o monumento ao contrabandista faz jus ao relato
emocionado dos velhos e sela a benevolência oficial gravada no dialecto
raiano: "En memoria de aquelis homis i mulleris de un lau e outru da
Raia que, con sua arríria e intercambius gañorim a vida i a amistai
sincera dus lugaris".E que levava aquela malta, noite fechada,
serra acima, serra abaixo, muitos crianças ainda ("Comecei de
garotinho, tinha 10 ou 11 anos, conta Manuel Aires, 80 anos, veterano
de Nave de Haver), rapazes no vigor da vida ("Andei até ir à tropa e
migrar", atesta Horácio Monteiro, 61 anos, à jorna entre S. Sebastião e
Fuentes de Oñoro), homens feitos e até mulheres ("Fui muita vez, e a
minha filha ainda foi buscar muito pão", confirma Miquelina Amaral, 88
anos, de S. Pedro de Rio Seco)?"Centenas de coisas!",
vangloria-se Manuel Aires - "azeite, sedas, roupas de senhora,
medicamentos..." Postado à secretária de presidente da Junta de Nave de
Haver, António Guardão, 62 anos, confessa: "Contrabandeei de tudo -
minério, café, tabaco, peles de raposa, chifres de boi, vacas, cabras,
ovelhas, carne, até dinheiro, quando acabaram as fronteiras -, só não
passei armas nem droga!"Do mais modesto carregador (pago à
jorna, jornaleiro) ao patrão, todos asseguram a uma só voz que o
contrabando não era crime. "Era para ganharmos a vida, que a zona era
muito pobre, muito escrava", diz Carlos Fonseca, 72 anos, com muito
monte feito entre Vilar Maior e Alamedilla, ora cumprindo a tarefa à
risca, ora largando a carga na serra a fugir à guarda. "Se a guarda nos
apanhava rebentava-nos os ossos à bengalada", lembra Carlos Martins, 91
anos, de S. Pedro de Rio Seco, evocando fugas com balas a silvarem
sobre a cabeça. Toninho Palos, 64 anos, entrou no contrabando
no dia em que fez o exame da quarta classe com distinção. "A prenda foi
levar seis quilos de café a Espanha". Um dia, uma bala varou-lhe uma
perna. Mudou de vida: abalou para França. Na aldeia, cinco
homens perderam a vida na faina. António Guardão narra o caso do tio,
apanhado pelo sargento do posto local já dentro do povo. "Encostou-lhe
a pistola por baixo dos braços e disparou". Era miúdo mas não temeu o
destino: andou na faina até ao fim. "Não era crime, só não pagava os
impostos!"Em Fóios, José Abílio Lucas, 59 anos, patrão de
contrabando de gados com mais de uma vintena de homens por sua conta
nas serras entre Penamacor e Almeida, diz: "Era negócio honesto -
comprava num sítio, vendia noutro!" Enriqueceu? Ninguém enriqueceu.
Ganhava-se a vida, fez-se economias, fez-se casa, ajudou-se os filhos,
deu-se-lhes estudos.

JN - 14.06.2009




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