Preço do petróleo permitiria gasóleo abaixo de 1 euro ‘Brent’ iguala o valor de Janeiro de 2007, quando o gasóleo custava 0,99 euros. Combustíveis não acompanham a matéria-prima.
Um litro de gasóleo a custar menos de um euro. É necessário recuar ao início de 2007 para que esta afirmação seja uma realidade. No entanto, a cotação do petróleo nos mercados internacionais igualou ontem o valor dessa altura, menos de 55 dólares por barril. Ou seja, a descida no custo do petróleo não está a ser totalmente repercutida no preço dos combustíveis.
Ontem, o ‘brent’ do Mar do Norte chegou a negociar a menos de 55 dólares, o que já não acontecia desde Janeiro de 2007. Nessa altura, os consumidores pagavam 0,990 euros por cada litro de gasóleo e o preço da gasolina estava fixado nos 1,206 por litro, de acordo com a Direcção Geral de Energia e Geologia. Ontem, com o ‘brent’ nos 54,94 dólares, o custo médio do gasóleo estava fixado em 1,160 euros, enquanto a gasolina sem chumbo de 95 octanas custava 1,274 euros. Com o petróleo no mesmo valor, os automobilistas pagam mais 17 cêntimos por cada litro de gasóleo e mais seis cêntimos pela gasolina. As petrolíferas terão assim margem para continuar a baixar os preços. Confrontada com estes números, a Galp, líder de mercado, escusou-se a comentar.
De Janeiro a Setembro, o petróleo desceu 38,9%, enquanto o gasóleo caiu 1,65% e a gasolina 6,2%. Mas esta acentuada diferença na correlação torna-se ainda mais significativa quando se avalia a performance desde o máximo histórico em Julho. O “ouro negro” caiu 60%, enquanto o gasóleo cedeu 18,8% e a gasolina 16,4%.
Para o secretário-geral da Associação de Empresas Petrolíferas, José Horta, os combustíveis não acompanham necessariamente o crude. “É necessário averiguar o desempenho dos produtos refinados”, afirmou em declarações ao Diário Económico. Nos cálculos, não se considerou a evolução do índice Platts - cotação do produto refinado à saída das refinarias do norte da Europa - uma vez que o valor deste não é disponibilizado publicamente.
Para além da matéria-prima, o preço dos combustíveis é influenciado por outros componentes, como fiscalidade, logística, distribuição, refinação, efeito cambial, procura e oferta, entre outros.
Ainda recentemente, Ferreira de Oliveira, presidente da Galp, afirmou que a apreciação do dólar face ao euro estava a limitar a descida dos combustíveis. Porém, ontem o euro negociava também muito próximo dos níveis registados no início do ano passado, cerca de 1,27 dólares. Para além disso, ontem o barril do “ouro negro” custava cerca de 45 euros, exactamente o mesmo preço que em Janeiro do ano passado. Assim, aparentemente o efeito cambial não é a justificação para a diferença de comportamento entre as matérias-primas e combustíveis.
Para o presidente da Associação Nacional de Revendedores de Combustíveis, Augusto Cymbron, este diferencial nos preços deve-se à excessiva fiscalidade. “As atenções terão de ser centradas nos impostos”. O IVA e o ISP determinam 47% do gasóleo e 59% da gasolina.
A Deco já deixou o alerta: “Os preços médios fixam-se sempre acima dos de Espanha e da média europeia.”
Números
- Este ano, o ‘brent’ desvalorizou 38,9%, enquanto o gasóleo recuou 1,65% e a gasolina sem chumbo de 95 octanas desceu 6,1%.
- Este diferencial na correlação entre a matéria-prima e o preço dos combustíveis é ainda mais acentuada, quando se analisa o desempenho nos últimos quatro meses.
- Desde o máximo histórico em Julho, o petróleo cedeu 60,3%, enquanto o preço do gasóleo caiu 18,8% e o preço da gasolina 95 recuou 16,4%.
- Ontem, o ‘brent’ do Mar do Norte chegou a negociar abaixo de 55 dólares por barril, o mínimo desde Janeiro de 2007, quando o gasóleo custava menos 17 cêntimos por litro e a gasolina menos seis cêntimos