Coragem

Assistimos ao repetir da história num continente onde se atearam duas guerras mundiais.
Será possível que estejamos, uma vez mais, a marchar de forma inexorável para o abismo?
O ovo da serpente JÁ chocou.
Da fúria nacionalista de Moscovo à pose imperial de Berlim, da Grécia em ruínas à cavalgada da Frente Nacional em França, da ruptura catalã a Lampedusa, da calada ascenção extremista na Áustria, à extrema-direita no governo da Noruega de Breivik, do pesadelo húngaro ao cerco à constituição portuguesa, da fome à ira, da ira aos populismos, dos populismos aos fascismos, dos fascismos ao rasgar da Europa, do rasgar à guerra.
Será possível?
Será possível que estejamos a assistir, uma vez mais, às trevas que caem sobre este continente e que tenhamos de combater amanhã pela liberdade, pelas nossas vidas, pelos nossos filhos?
Será possível que não tenhamos aprendido nada e que, amanhã, nos vejamos perante as consequências de termos feito da memória arma do ódio e não ferramenta para a paz?
Será possível que nos votemos ao avanço da noite sem lhe erguermos barricadas?
Será possível que não despertemos do torpor que nos impõem e o sacudamos de forma clara e afirmativa?
Fecha-se o cerco em torno da cidadela que julgámos segura.
Pelos que a erigiram, pelos que nela habitam, por aqueles a quem a legaremos, é tempo de, uma vez mais, defendê-la, é tempo, uma vez mais, de resistir.

via Artigo 21.º