13% ou 80% de razão?Sempre que há uma greve ou uma manifestação acontece o mesmo: de um lado, o
número de grevistas ou manifestantes é irrisório, do outro é
multitudinário. O motivo resulta fundamentalmente daquilo que, em
propaganda política (e uma greve ou uma manifestação são actos de
propaganda), se designa por princípio da unanimidade e contágio. Há uma
tendência humana, demasiadamente humana, de tipo gregário (espécie de
horror à exclusão e à solidão), que nos leva a pormo-nos do lado das
razões, boas ou más, das maiorias. É por cada uma das partes pretender
suscitar unanimidade em relação às suas razões que, para os sindicatos, a
greve de ontem da função pública terá tido mais de 80% de adesões e,
para o Governo,13%. Dir-se-á que um dos dois mente, ou que mentem ambos,
mas a coisa está para além da verdade e da mentira, é propaganda, não
aritmética. Se fosse aritmética, João Proença, secretário-geral da UGT, e
Dionísio Sousa, da CGTP, que se declararam "em greve" (talvez sejam,
não sei, funcionários públicos) apesar de andarem por Moçambique a
passear com o primeiro--ministro, seriam grevistas ou fura-greves?
JN - 05.03.2010