Jovem surda alertou vizinhos dos abusos
Moradores confirmam, ao JN, que ela lhes disse que o pai a violava
"Gabriela" (nome fictício) não sofreu em silêncio. A jovem surda, de 26 anos, relatou a várias vizinhas os abusos sexuais que garante ter sido vítima durante cerca de uma década às mãos do pai. Porém, ninguém a ajudou nem alertou as autoridades.
"Fazia gestos e dizia algumas palavras. Percebia-se perfeitamente o que contava, que o pai abusava dela", contou, ontem, ao JN, uma vizinha da família, que não quis ser identificada. Outra, moradora na mesma freguesia dos arredores de Faro reconhece que o que a jovem lhe contou "é muito grave e macabro", mas nunca pensou chamar a Polícia. "Ia lá arranjar problemas com essa gente", disparou, referindo-se aos pais da rapariga.
A vizinhança também confirma o que "Gabriela" revelou ao JN. "Era um corropio de homens lá em casa todos os dias", ouve-se. A jovem fala sobre "o rapaz da mota", amigo do pai e habitual frequentador da casa onde vivia e com quem diz ter sido "incentivada" a manter relações sexuais. Ontem, ele limitou-se a dizer que "ia lá a casa petiscar". Sobre o envolvimento com a jovem, é vago, mas não desmente. "O pai dela anda para aí a dizer que eu é que sou o pai da criança. Deve ser para desviar as atenções dele".
Na freguesia todos questionam o facto de o progenitor estar em liberdade. A Directoria do Sul da Polícia Judiciária ainda estará a aguardar pelos resultados de exames periciais para agendar eventuais diligências. A jovem foi sujeita a exames, mas várias fontes médico-legais, contactadas pelo JN, referem que "a prova é muito difícil de produzir nestes casos, em particular se os eventuais abusos foram continuados e interrompidos durante a gravidez". A jovem foi mãe do segundo filho, na semana passada. A avaliação psicológica, incluída no exame médico-legal a que terá sido submetida, pode ajudar a aferir a veracidade dos relatos.
Filho perguntou pela mãe
"Gabriela" e a irmã, de 15 anos, foram retiradas da casa dos pais após a mais nova ter contado na escola que o pai a acariciou nos seios e que seria o progenitor dos dois filhos da mais velha. O caso está a ser acompanhado pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco.
As duas irmãs foram colocadas em instituições de acolhimento. "Gabriela" está com a filha mais nova com apenas uma semana de vida. O mais velho, de quatro anos, está no Refúgio Aboim Ascensão. Ontem perguntou pela mãe pela primeira vez. Apesar de revelar alguma tristeza, está bem de saúde.
MARISA RODRIGUES
JN - 03.o6.2010