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 Cuidado com os rótulos

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MensagemAssunto: Cuidado com os rótulos   Cuidado com os rótulos EmptySeg Dez 17, 2012 3:15 pm


Cuidado com os rótulos Rotulos
Enquanto avançava em direção ao quadro da sala de aula, Simão murmurava para consigo próprio, a cada passo que dava: «Eu não sou capaz. Eu não sou capaz…» A professora, querendo contrariar este prognóstico emitido pelo próprio aluno, teve uma reação espontânea, começando a incentivá-lo: «Tu és capaz! Tu és capaz!» Este incentivo funcionou como uma onda de contágio que se estendeu aos colegas do Simão, fazendo-os acompanhar a professora: «Tu és capaz! Tu és capaz! Tu és capaz!»

Simão interrompeu a caminhada para o quadro e olhou para a professora e os colegas, interrogando-se: «Eu sou capaz? Acham mesmo que eu sou capaz?» Um coro de vinte e cinco vozes respondeu-lhe em uníssono: «Sim, tu és capaz, tu és capaz! Bem…», ponderou Simão, antes de agarrar no giz para tentar fazer a conta passada no quadro. Principiou a medo mas, incentivado pelo coro de vozes, deu o seu melhor… e conseguiu fazer a conta!

«Está certa!»− foi o veredito da professora e dos colegas. Simão abriu um grande sorriso, ainda meio inseguro e quis certificar-se: «Eu fui capaz?» Logo o coro lhe respondeu: «Tu foste capaz!» A partir dessa altura, era ver o Simão a pedir para ir ao quadro todos os dias. Enquanto avançava, repetia, por sua iniciativa «Eu sou capaz! Eu sou capaz!», incitado pelos colegas que reforçavam «Tu és capaz! Tu és capaz!»

Habitualmente com falta de confiança em si próprio, este aluno tinha encontrado coragem para se expor perante o grupo e, à medida que conseguia ter sucesso no que fazia, ficava mais confiante nas suas capacidades e ganhava uma nova motivação para aprender. Essa mudança de atitude em relação a si próprio foi determinante para progredir nas aprendizagens, ao mesmo tempo que a melhoria nas aprendizagens contribuiu para aumentar a sua autoconfiança.

No caminho que percorreu entre o seu lugar e o quadro da sala de aula, o que mudou no Simão? Não foi certamente o seu conhecimento da matemática, pois se ele não soubesse fazer a conta, não teria conseguido fazê-la. O que faltava a este aluno era a confiança nas suas capacidades, o que o tinha levado a colocar a si próprio o rótulo de «Não sou capaz». Quando o rótulo foi retirado, Simão conseguiu uma nova atitude perante a aprendizagem, marcada pela vontade de fazer e de tentar, mesmo que para tal tivesse de se expor e até pudesse eventualmente errar, pois o erro também faz parte do processo de aprendizagem.

Profecias que se autorrealizam?

A questão dos rótulos colocados nas crianças é mais atual do que nunca, numa sociedade em que existe um maior conhecimento e preocupação com o diagnóstico de determinadas patologias que podem afetar a aprendizagem. Esta preocupação, à partida, é positiva, na medida em que permite identificar problemas específicos ao nível da aprendizagem e delinear estratégias adequadas para uma intervenção em tempo útil.

É o que pensa Bárbara Giraldes, professora do 1.º ciclo, consciente da importância do papel da escola no despiste das dificuldades das crianças. Para tal, «é fundamental estar atento e sinalizar os alunos que precisam de apoio, pois, nestes casos, o tempo vale ouro». Esta ideia de que o tempo é determinante também é partilhada por Filipe Glória e Silva, pediatra do desenvolvimento no Hospital Cuf Descobertas, que considera o diagnóstico frequentemente tardio. De acordo com a sua experiência, «quando as crianças chegam à consulta já andam há dois ou três anos com a rotulação de que são preguiçosas, de que não se esforçam nem se empenham».

Mas esta preocupação, se levada ao extremo ou colocada na boca do senso comum, pode ter um efeito negativo, que é a rotulação dos alunos, colocando-os em «prateleiras» de onde se torna difícil sair. Na opinião de Filipe Glória e Silva, a nível médico não existe sobrediagnóstico de problemas ligados com as dificuldades de aprendizagem, pelo menos em Portugal. O que pode haver é «sobre-diagnóstico de corredor», com os perigos que daí advêm: «Os rótulos funcionam como profecias auto-confirmatórias, na medida em que se colam na pele das crianças, minando a sua auto-estima e fazendo com que tendam a encaixar-se no papel que lhes foi destinado». Pelo contrário, «os professores devem valorizar o desempenho da criança, tendo em conta o seu perfil, e salientar os progressos realizados, por mais pequenos que pareçam».

É por esse motivo que colocar rótulos pode afectar as crianças, tal como refere Bárbara Giraldes: «Os rótulos são perigosos, uma vez que criam prognósticos para a evolução dos alunos, de acordo com os quais estes tendem a agir.» Na sua opinião, «é preciso ter expectativas, ter fé nas capacidades das crianças, pois estas podem evoluir e surpreender». É neste sentido que considera que os professores devem ser exigentes para com todos, consoante as potencialidades de cada um: «Os professores têm capacidade para ler a individualidade de cada aluno, potenciando a aprendizagem daqueles que são bons e apoiando aqueles que são menos bons».

O culto da excelência

Vivemos numa sociedade virada para o sucesso, em que se procura a excelência desde cedo como garantia de triunfo no futuro. Com 26 anos de experiência, Bárbara Giraldes observa uma diferença considerável entre as expetativas que atualmente as famílias transportam para a escola e aquelas que existiam quando começou a lecionar. «Agora atropela-se o tempo. As crianças ainda frequentam o 2.º ano de escolaridade e os pais já estão a pensar na sua entrada na faculdade», constata.

Esta ansiedade reflete-se nas expetativas com o desempenho escolar, fazendo com que haja uma grande pressão para a excelência, de preferência atingida rapidamente. «Na questão das aprendizagens temos de dar tempo ao tempo, de insistir nas áreas em que a criança tem dificuldades e de lhe transmitir ‘Calma, que vais conseguir!’», defende esta professora.

Também Filipe Glória e Silva refere que há pais que levam os filhos à consulta não porque estes tenham dificuldades a nível escolar, mas porque pretendem um melhor desempenho académico. Acontece que, depois de observar as crianças, se constata que afinal têm um desenvolvimento normal para a idade. Tal como refere este pediatra, «existem mais expetativas e um maior grau de exigência ao nível dos resultados escolares».

Comportamentos com impacto negativo
Paradoxalmente, essa sociedade que tantas expetativas cria em termos de desempenho escolar acaba por induzir comportamentos que podem ter um impacto negativo sobre as aprendizagens, como as dificuldades relacionadas com a capacidade de atenção e o controlo da impulsividade. «Existe um modo de vida em que a concentração e a dedicação exclusiva a uma tarefa são pouco treinadas. O que predomina é uma habituação à novidade e a estímulos constantes, em detrimento de atividades mais calmas e prolongadas», afirma o pediatra. «Mesmo os longos períodos de tempo em que as crianças estão expostas à televisão e à consola implicam falta de oportunidades para treinar outros tipos de atenção que não a atenção ligada ao ecrã».

«As crianças têm pouco tempo para estar em casa com os pais e brincam pouco sozinhas, o que tem consequências ao nível da capacidade de atenção, de persistência e de manutenção da concentração a realizar a mesma tarefa. Depois das aulas, têm a atenção dispersa por demasiadas atividades extraescolares, que muitas vezes são alteradas de forma errática, de acordo com vontades momentâneas, implicando a compra de equipamentos que nunca mais são usados», reflete Bárbara Giraldes. Para o pediatra do desenvolvimento, o maior controlo comportamental exigido pela sociedade deixa menos oportunidades para a atividade motora e o jogo livre: «As crianças passam muito tempo fechadas em apartamentos e vão desde cedo para a escola, onde realizam atividades dentro das salas de aula e aguardam nas filas do refeitório. Aquelas que possuem maior predisposição para a atividade motora, depois de tantas atividades estruturadas, têm uma explosão de energia». De acordo com a professora do 1.º ciclo, a falta de regras e de limites tem implicações no comportamento e na aprendizagem, criando dificuldades em estudar, em concentrar-se, em estar com os outros e em respeitar o adulto. «Não se desenvolve a capacidade de resistência – a tão falada resiliência – nem a persistência». Para tal, «é necessário ouvir dizer não e de ouvir dizer não de uma forma consequente. Mantendo o não sem o transformar em sim».
via Joana Faria - http://www.paisefilhos.pt
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