Somos os maiores...
Terminada a presença na África do Sul, Queiroz veio dizer que o trabalho desenvolvido foi bom e dignificou o futebol português. De consciência tranquila, o seleccionador salientou que o onze luso apenas perdeu com a equipa campeã europeia, agora também detentora do título mundial.
Seriam afirmações radículas mas irrelevantes, se não fossem paradigmáticas de uma maneira de estar que atravessa a sociedade portuguesa e de que enfermam decisores das mais diversas instituições, da política às empresas. Falta-nos coragem e ambição, onde sobra uma postura de conformado fatalismo mas que adoça os factos, distorcendo a realidade. Tudo isto associado à costumeira falta de transparência e a uma notória má gestão.
Vejamos... O trabalho desenvolvido foi mau, a prova é que a selecção portuguesa não ganhou nada e desceu cinco lugares no ranking da FIFA. Igualmente, não dignificou fosse o que fosse porque a postura receosa, a falta de ambição e coragem (sobretudo, evidenciadas frente à Costa do Marfim) nada tiveram de dignificante, pelo contrário.
Falta de transparência porque, mais uma vez, não fica claro se Queiroz vai receber, ou não, um imerecido prémio chorudo e, muito menos, se a Federação sai de tudo isto com prejuízo ou com lucro. O costume. A verdade fica no segredo dos deuses e instala-se a suspeição na praça pública.
Má gestão porque não se entende que a ausência de eficácia, o malogro, possam ser premiados... A menos que o ponto de vista seja "a selecção não passou dos oitavos-de-final? Pois, mas a França e a Itália baquearam na fase de grupos e e nós ficámos entre os 16 melhores"...
Se sairmos da esfera do futebol, a onda mantém-se. Por exemplo, temos a maior taxa de abandono escolar da União Europeia? Não importa, a ministra está satisfeita porque estamos a melhorar. Quase 49% dos alunos do 9.º ano tiveram negativa nos exames de Matemática? O Ministério da Educação sublinha que a média do conjunto de todas as provas é positiva. O Governo empenha-se na info-inclusão, mas 55,4% dos portugueses não usam a Internet? Não faz mal, importa é 44,6% são verdadeiros navegadores. Somos dos europeus com mais baixos rendimentos e maiores dificuldades para chegar ao final do mês com as contas pagas? E depois? Importante é que no final do ano passado havia 11 mil portugueses com fortunas superiores a um milhão de dólares (815 mil euros), mais 600 do que em 2008.
Afinal, estamos em franco progresso. Vai-se a ver, somos os maiores.
JN -16.07.2010