Presidentes de junta atendem munícipes até dentro do
carrofoto sérgio freitas/jn
Fernando Silva despacha o expediente da Junta de Bastuço Santo Estêvão
na carrinha
Barcelos tem um quarto das 89 freguesias sem sede de junta definitiva.
Algumas são na garagem ou cave da residência do presidente da junta,
outras ocupam uma cozinha alugada, uma sala paroquial ou um velho posto
de recolha de leite.O autarca de Bastuço Santo Estêvão até carimba despachos na sua
viatura, devido a "indefinições" no edifício escolar. "A solução não ata
nem desata e este cargo não tem hora, os fregueses chegam a vir a casa à
meia-noite pedir papéis", confessa Fernando Silva. Apesar de 35 anos de
democracia, o cenário geral persiste e até foi suavizado com a
reutilização de escolas primárias, fechadas face à fraca natalidade,
mesmo não tendo condições de manutenção e segurança. Reuniões de
Assembleia de Freguesia são outro problema.O novo Executivo da
Câmara reconhece que as situações não dignificam o poder local e tem a
meta de concluir todos os projectos, se possível este mandato. A compra
de terrenos e as obras colidem no constrangimento orçamental, o que
"levou o município a iniciar negociações com as juntas para
eventualmente integrar a construção das sedes na parceria
público-privada da Barcelos Futuro", estando a análise individual em
curso.Enquanto não há data, leia-se dinheiro (320 mil euros),
para erigir a sede ao pé do cemitério, o autarca de Quintiães cede a
cave da moradia para o serviço administrativo, e com esmero. Água, luz,
fotocópias, limpeza e telefone estão a seu cargo. Há gente que se
acanha, por ser um domicílio, mas tem "atendimento alargado", basta
Fernando Lima estar.
Cavaco na garagemEm
Mariz, Domingos Araújo recebe há mais de uma década munícipes na mesa
tipo campismo da sua garagem. A obra da sede definitiva iniciou em 2004
mas o construtor faliu. Crê que a Câmara resolverá rápido o caso. "Se
demorar, mais gasta a reparar, há infiltrações e falta rever piso,
pintura e serralharia". O quadro da foto do Presidente da República e as
bandeiras nacional e da freguesia tentam dar "dignidade à actividade e
imagem de local público" à garagem, que como é normal falta rebocar e
tem arrumos, roupa a secar, batatas, mota, máquina de lavar. Já atendeu
com a esposa a partir lenha para o fogão, não tem onde meter mais
dossiers da Junta (estão em caixotes e mobília da escola) e põe o carro à
chuva ou no vizinho para ter espaço. "Há regiões com sedes de Junta que
parecem Câmaras. Se as juntas são importantes dêem condições, senão
acabem-nas ou façam reforma administrativa", criticou.Também em
Remelhe aguarda-se o reatar de obras do imóvel, para largar uma cozinha
arrendada. Em curso estão os edifícios-sede de Vila Boa, Adães e
Fornelos. Em Aguiar e Couto atende-se nos baixos da casa da família do
autarca e em Gamil no seu escritório. Na vizinha Aborim fica-se no
imóvel dos ex-operários da CP, alugado pela Refer, ansiando-se nova
morada no terreno ao lado. Em Vila Cova deixou-se um canto da Casa do
Povo, "a sala de espera era a rua", para um rés-do-chão restaurado. Em
Barqueiros, Góios e Bastuço S. João fica-se em dependências da igreja e,
em Faria, no edifício do jardim-de-infância.
NUNO PASSOSJN - 04.02.2010