"O medo vai ter tudo"

Não há como o medo para docilizar e infantilizar (transformar em ratos, como no poema de O'Neill) populações inteiras. Populações assustadas são facilmente manipuláveis. Aconteceu com a histeria do medo nos EUA durante a Guerra Fria que, nos anos 60, Bob Dylan denunciou em canções como "A hard rain a-gonna fall" e gerou uma cultura de denúncia que culminou no tenebroso Comité de Actividades Anti-Americanas.
Após o 11 de Setembro, o mundo islâmico substituiu a URSS na política de medo do Ocidente, justificando, em nome da segurança, todo o tipo de legislação atentatória dos direitos e liberdades individuais.
Em países islâmicos são Israel e os EUA o Papão bifronte que líderes políticos e religiosos apontam às populações para as dispor a comer acriticamente a sopa obscurantista e repressiva que lhes é diariamente servida.
E, pelos vistos, as culpas reais de Israel não bastam. A imaginação do medo é fértil. Há meses, Mohamed Shousha, governador do Sinai, acusou um tubarão que atacou turistas nas praias do Mar Vermelho de ter sido treinado pela Mossad para sabotar o turismo egípcio. Na semana passada foi uma águia-de-cabeça-branca (o símbolo dos EUA!) com uma anilha de monitorização que foi feita prisioneira na Arábia Saudita, acusada de espiar para Israel. A boa notícia é que vai ser libertada. Encerrado o inquérito, o príncipe Saud anunciou ontem ao país que o bicho está inocente...

JN - 14.01.2011